Concerto gratuito aborda as mulheres na música

Concerto gratuito aborda as mulheres na música

No dia 29 de novembro, às 17 horas, o Centro MariAntonia da USP promove o concerto gratuito “Mulheres na música”, com a soprano Marília Vargas, a harpista Liuba Klevtsova e a musicóloga Camila Fresca nos comentários.

Marília Vargas e Liuba Klevtsova se juntaram à Camila Fresca para realizar uma profunda pesquisa de repertório e oferecer ao público obras de extrema beleza e relevância, mas que ficaram no ostracismo por séculos. O programa faz uma viagem no tempo, propondo um resgate e uma reflexão crítica sobre compositoras emblemáticas de diversos períodos da música, porém ainda pouco difundidas.

O repertório inclui desde a música composta no século XII por Hildegard von Bingen, passando por
nomes como Clara Schumann, Nádia Boulanger e Chiquinha Gonzaga, até chegar ao Brasil do
século XXI.

Durante apresentação, as peças são comentadas e contextualizadas por Camila Fresca, que aborda
a atuação das mulheres na contemporaneidade por meio de indagações sobre paradigmas
constituídos historicamente, que restringiram a atuação feminina em diversas esferas da sociedade e
na música.

As compositoras
Quase todas as compositoras que integram o programa tiveram que brigar para poderem exercer sua
profissão. Para Camila Fresca, “quando pensamos em mulheres compositoras, existem dois fatores que
explicam elas serem tão poucas: o primeiro é que elas tiveram que vencer diversos obstáculos sociais e estruturais, já que não era esperado que mulheres fizessem música profissionalmente”. Registros de mulheres fazendo música só começaram a surgir mais efetivamente a partir do século XIX, no Romantismo.

“O segundo é o esquecimento. Muitas foram esquecidas após sua morte, embora tivessem produzido e até publicado obras”, explica Camila. Somente a partir das décadas de 1970, 80 e 90 pesquisas foram realizadas, recuperando partituras de compositoras que caíram no ostracismo. Marília Garcia afirma que é fundamental mostrar para o público que a música feita por mulheres existe e está viva, além de despertar nos jovens cantores e instrumentistas o interesse por essa produção.

Hildegard von Bingen (1098-1179) foi uma monja beneditina, além de escritora, médica, artista plástica, compositora e dramaturga. Suas 77 canções litúrgicas estão reunidas na Sinfonia da harmonia das revelações celestiais e no auto dramático A ordem das virtudes, um dos únicos registros da atividade musical feminina durante a Idade Média. Foi canonizada como santa pela Igreja Católica.

Francesca Caccini (1587-1637) foi compositora, cantora, alaudista, poetisa e professora no início do
período barroco. Seu único trabalho sobrevivente, La liberazione di Ruggiero, é considerado a ópera
mais antiga composta por uma mulher. Foi o músico mais bem pago da corte dos Medici.

Fanny Mendelssohn (1805-1847) foi pianista e compositora prolífica, escrevendo mais de 460 músicas, incluindo um trio com piano, um quarteto de cordas, diversas peças para piano solo e canções. Irmã de Félix Mendelssohn (1809-1847), após a infância foi desestimulada a prosseguir na carreira musical pela família, que exigiu que ela se dedicasse à vida doméstica, ao casamento e aos filhos.

Maria Malibran (1808-1836) foi uma das mais famosas cantoras de ópera do século XIX. De
personalidade tempestuosa e intensidade dramática, era célebre pelo extraordinário alcance, poder e
flexibilidade de sua voz. A despeito de sua atuação principal como cantora, ela deixou algumas canções.

Pauline Viardot (1821-1910) era irmã mais nova de Maria Malibran. Embora quisesse ser pianista
concertista, depois da morte da irmã, acabou se profissionalizando como cantora. Escreveu canções
e operetas. Mantinha um concorrido salão artístico em Paris na virada do século XIX para o XX.

Félia Litvinne (1860-1936) foi uma soprano dramática nascida na Rússia e radicada na França, particularmente apreciada em papéis wagnerianos. Embora não seja conhecida como compositora, é
dela o arranjo e a letra em francês para Tristesse, de Chopin.

Ekaterina Walter-Kühne (1870-1930) foi a primeira harpista mulher a se apresentar com uma orquestra sinfônica na Rússia. Intérprete brilhante, sempre incluía em seus programas fantasias de sua autoria sobre temas de óperas. Lecionou no Conservatório de São Petersburgo. Após a Revolução Russa, em 1917, emigrou para a Alemanha, onde viveu até o fim da vida.

Eva dell’Acqua (1856-1930), nascida na Bélgica, era filha do pintor italiano Cesare Dell'Acqua e de
Carolina van der Elst. Suas composições têm linguagem romântica e incluem obras orquestrais,
peças para orquestra de câmara, canções e piano e voz solo.

Cécile Chaminade (1857-1944) foi pianista e compositora na virada do século XIX para o início do XX. Proibida pelo pai de se matricular no Conservatório de Paris, venceu obstáculos e conseguiu desenvolver uma carreira de sucesso, fazendo turnês pela Europa e EUA interpretando suas próprias obras.

Nádia Boulanger (1887-1979) foi uma das mais influentes personalidades musicais do século 20. Compositora, maestra e professora francesa, orientando muitos dos principais músicos do século XX.
Foi a primeira mulher a dirigir orquestras importantes dos EUA e Europa, incluindo a BBC Symphony,
Boston Symphony e Filarmônica de Nova York.

Emilia De Benedictis (1919-1996), filha do professor, compositor e musicólogo Savino De Benedictis, se formou intérprete e professora, além de desenvolver uma produção composicional, passando a escrever suas obras em partitura na década de 1980. Também compositora, Nilcéia C. S. Baroncelli (1945) foi sua nora e é reconhecida como uma das pioneiras no Brasil no estudo de mulheres compositoras.

Juliana Ripke (1988) é uma jovem pianista e compositora, doutoranda em musicologia pela ECA-
USP. Destacando-se na composição de canções, neste programa, ela tem uma obra em parceria
com a cantora Marília Vargas.

Chiquinha Gonzaga (1847-1935) teve uma atividade musical intensa, deixando centenas de
composições. Participou do nascimento do choro, na música popular, e inaugurou um gênero com
sua marcha Ó Abre Alas. Deflagrou uma campanha pela defesa do direito autoral que culminou na
criação da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais. Foi a primeira mulher a reger orquestra no
Brasil, no século XIX, sendo também pioneira em nível internacional.

Programa
▪ Hildegard von Bingen (1098-1179), Caritas abundat 
▪ Francesca Caccini (1587-1637), Per la più vaga e bella 
▪ Fanny Mendelssohn (1805-1847), Schwanenlied 
▪ Maria Malibran (1808-1836), Le retour de la Tyrolienne
▪ Pauline Viardot (1821-1910), Hai luli 
▪ Frederick Chopin (1810-1849) / Félia Litvinne (1860-1936), Tristesse 
▪ P. I. Tchaikovsky (1840-1893) / Ekaterina Walter-Kühne (1870-1930), Fantasia sobre temas da
ópera Eugene Onegin
▪ Eva dell’Acqua (1856-1930), L’hirondelle
▪ Cécile Chaminade (1858-1944, Mots d’amour 
▪ Nádia Boulanger (1887-1979), Chanson
▪ Emilia De Benedictis (1919-1996) / Nilcéia C. S. Baroncelli (1945), Nuvens
▪ Juliana Ripke (1988) / Marília Vargas (1977), Canção com palavras nº 1: Caixinha de afetos
▪ Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Lua Branca 


Quem são
Marília Vargas
Premiada nos concursos Bidu Sayão, Maria Callas, Friedl Wald Stiftung e Margherite Meyer, a
soprano Marília Vargas é uma das mais ativas e respeitadas cantoras de sua geração, e divide seu
tempo entre concertos, master classes e festivais de música, que a levam regularmente a diversos
países europeus, da América Latina, Japão e China. 

Liuba Klevtsova
Nascida na Rússia, Liuba começou a estudar harpa aos sete anos em Moscou, com a professora Elena Pavlova, conquistando o 1º Prêmio no II Concurso Moscovita de Jovens Harpistas. Além de ser integrante da Osesp e atuar como solista nas principais orquestras do Brasil, leciona no Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão e na Academia da Osesp.

Camila Fresca
Doutora e mestra em Musicologia pela ECA-USP, bacharel em História e Comunicação Social – Jornalismo, Camila Fresca atua como jornalista, curadora e pesquisadora especializada em música clássica. É colaboradora da Folha de S. Paulo e da Revista Concerto, além de possuir extensa produção literária sobre o universo da música. https://www.instagram.com/camilavfresca/

Serviço

Concerto “Mulheres na música” com a soprano Marília Vargas, a harpista Liuba Klevtsova e a musicóloga Camila Fresca

Quando | quarta-feira às 17 horas
Onde | Centro Maria Antonia da USP – Edifício Joaquim Nabuco
Classificação | Livre
Lotação da sala  | 100 lugares (sujeito à retirada de senha 1 hora antes do espetáculo)
Quanto | Grátis