História

O Centro Universitário Maria Antonia é uma instituição cultural que atua como espaço de extensão e democratização ao acesso das correntes de pesquisa interdisciplinar da Universidade de São Paulo e que viabiliza o fomento da arte em meio a cena cultural de São Paulo. 

A programação do MariAntonia oferece cursos de difusão, exposições, palestras, lançamentos de livros e eventos que fomentam o pensamento crítico ao tematizar os direitos humanos, a ciência e a produção do conhecimento. Além dessas atividades, há a Biblioteca Gilda de Mello e Souza, as programações do Teatro da USP (Tusp), do Cinema da USP (Cinusp) e os programas da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP.  

A sala de cinema Carlos Reichenbach abriga programação própria de mostras e estreias gratuitas de filmes e, em parceria com o Cinusp, a programação aos finais de semana.

Tombado em 1988 pelo Condephaat e inaugurado como centro de cultura em 1993, esse espaço é um patrimônio histórico que dedica-se à preservação da memória coletiva ao representar os marcos da resistência à ditadura militar brasileira e da luta pela democracia.

Atualmente, o conjunto é formado por dois edifícios localizados na Rua Maria Antônia, bairro Vila Buarque, centro da cidade de São Paulo: o edifício Joaquim Nabuco localizado no número 258 e o edifício Rui Barbosa no número 294, construídos na década de 1930 para abrigar o antigo colégio Liceu Nacional Rio Branco. Em 1949 a Universidade de São Paulo tomou posse de três edifícios do antigo Liceu, esses dois atuais e outro na Rua Dr. Vila Nova, onde passou a funcionar a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) e a Faculdade de Ciências Econômicas e Administração (FCEA), respectivamente.

Contexto

Na década de 1950, a então FFCL da USP se torna vizinha da Universidade Presbiteriana Mackenzie, instituição privada, fundada em 1870, mas reconhecida como universidade somente em 1952 por decreto de Getúlio Vargas. 

O bairro da Vila Buarque, nesse período, apresenta-se como circuito universitário com a presença de outras instituições como a Faculdade de Arquitetura da USP, a Escola de Sociologia e Política e a Fundação Armando Álvares Penteado. No entanto, para além das instituições de ensino, as discussões políticas se estendiam para os bares, livrarias e comércios do bairro. 

Maria Antonia, alcunha dada pelo movimento estudantil à época de 1949 a 1968 quando abrigava a FFCL, foi um pólo de formação e de efervescência política e cultural na cidade. Por conta desse caráter modernizador, o prédio da FFCL, onde estudaram e ensinaram muitos intelectuais e líderes de diversos partidos políticos, tornou-se o epicentro da luta pela democracia de direitos, por uma universidade crítica e atuante e das ações que faziam oposição ao governo militarizado. 

O movimento estudantil vivenciava nesse momento um campo de disputa ideológica com os movimentos conservadores de direita que mantinham posição favorável ao regime militar, como a Universidade Mackenzie e o Grupo Comando de Caça aos Comunistas (CCC) que articulou ações de oposição às lutas estudantis em diversas localidades brasileiras. 

Diversos ataques já vinham ocorrendo desde 1964. Uma das primeiras medidas do golpe em São Paulo foi invadir a rua Maria Antônia. O então governador Adhemar de Barros já a caracterizava como “ninho de comunistas”. Porém, foi nos dias 2 e 3 de outubro de 1968 que se concretizou o conflito maior em frente ao edifício Rui Barbosa da FFCL.

A batalha da rua Maria Antônia, como ficou conhecida, foi um evento no qual alunos da USP tentaram defender-se dos ataques do CCC, liderado por alguns alunos do Mackenzie. Estes foram marcados por agressões, troca de tiros, ataques com pedra, ácido sulfúrico e coquetéis molotov. Enquanto isso, do outro lado da rua, a Universidade Mackenzie manteve-se sob a guarda da polícia militar que não interveio nos ataques, permitindo que os prédios da USP e os estudantes que os ocupavam continuassem sendo agredidos.

Os ataques culminaram na morte do secundarista José Guimarães e no incêndio do edifício Rui Barbosa da USP. Este foi fechado por uma decisão governamental posta em prática pela polícia militar e, assim, os cursos que antes eram localizados na Maria Antônia foram transferidos para a Cidade Universitária. 

Essa batalha aconteceu em um ano de grandes agitações sociais: 1968. Além de ser emblemático para a luta por democracia, liberdade e direitos humanos, a repressão policial às intensas manifestações engajadas por estudantes marcaram o cenário mundial. 

A década de 60 é marcada pelo florescimento dos movimentos estudantis, de reivindicações políticas como os movimentos de contracultura, a tomada de ação por lideranças de esquerda, os movimentos de resistência negra, como os Panteras Negras nos Estados Unidos, os movimentos contra a Guerra do Vietnã, a resistência universitária de Maio de 1968 na França, entre outros movimentos. 

Outro grande motivo da resistência estudantil durante o golpe militar foi a implementação da Reforma Universitária de 1968. Inspiradas pelo modelo de ensino dos Estados Unidos, país também responsável pela articulação da ditadura no Brasil, as políticas direcionadas às universidades brasileiras se deram através da implementação do acordo MEC-USAID, entre o Ministério da Educação e Cultura e United States Agency International Development, e representavam um processo de elitização do ensino público. 

Esse episódio, a Batalha da Maria Antonia, cujas memórias instalaram-se no prédio da Universidade de São Paulo e nas imediações da Rua Maria Antônia, representa na história brasileira um dos eventos em que houve a violação de direitos humanos, o estado de opressão e perseguição política sobre agentes e movimentos sociais que possuíam ideias divergentes àquelas do regime militar. Isso aconteceu com alguns alunos e professores da USP que tiveram sua trajetória marcada pela perseguição policial, a censura e o exílio. 

Reconhecendo a importância de atuar com a memória, para buscar diálogo entre o presente e o passado, resgatamos o acontecimento na rua Maria Antônia e a resistência da FFCL, que aqui se localizava, como um exemplo das várias ocorrências no período do regime militar no Brasil, e que justificam a proteção e a preservação do Estado Democrático de Direito, bem como políticas públicas, para garantir os direitos humanos no país.