Exposição apresenta construções brasileiras na ditadura civil-militar

Rememorando os 60 anos do golpe militar de 1964, o Centro MariAntonia traz a mostra Paisagem e Poder: construções do Brasil em tempos de ditadura, apresentando o espaço cotidiano das cidades brasileiras

O Centro MariAntonia da USP inaugura, no dia 19 de março, às 19 horas, a exposição Paisagem e Poder: construções do Brasil em tempos de ditadura, mostra documental que utiliza diversos suportes, e tem o objetivo de pensar o ambiente construído no período da ditadura brasileira, que durou 21 anos. A curadoria é dos arquitetos Magaly Pulhez, Paula Dedecca, Victor Próspero, João Fiammenghi e José Lira. A entrada é gratuita.

A mostra procura refletir sobre as complexas e intensas transformações do território nacional em suas diversas escalas entre 1964 e 1985, a partir de documentação da época e material audiovisual. Para os curadores, muito do que vemos ao nosso redor foi construído durante o regime militar. O espaço se transformou profundamente de conjuntos residenciais à expansão das periferias urbanas, das estradas e barragens construídas nos quatro cantos do país a viadutos e avenidas presentes nas metrópoles, de edifícios modernos icônicos a estruturas espaciais ordinárias, da destruição das marcas da história à construção das cidades novas pelo território nacional.

A exposição, dividida em três eixos, trará documentação desses espaços com cadernos técnicos, revistas, correspondências, atas, boletins e jornais disponíveis no acervo do Departamento de São Paulo do Instituto de Arquitetos do Brasil (IBA), e em outras instituições e colecionadores. Haverá ainda a projeção de imagens, bem como a reprodução impressa de fotografias, desenhos, filmes, dispositivos e material digitalizado.

O primeiro eixo temático visa compreender as transformações na paisagem resultantes do poder na mão dos militares e da burocracia estatal, incluindo os marcos simbólicos do regime e os efeitos socioambientais derivados do modelo de desenvolvimento nacional adotado no país. No segundo, busca-se colocar em evidência o enorme desenvolvimento das engenharias, tecnologias, empresas e empreiteiras associadas a um amplo escopo de planejamento econômico-territorial. E, no terceiro, coloca-se em questão quais as transformações e continuidades na forma do ambiente projetado e não projetado, construído e não construído, esses processos acarretam, da produção em série à auto-afirmação de objetos únicos, com autoria reconhecida ou não.

Programação paralela

Até junho, haverá uma programação paralela, gratuita e abertas ao público:

  1. Mesas de debate com temáticas relacionadas à exposição e à historiografia da arquitetura, do urbanismo e da paisagem no período 1964-1985; 
  2. Ciclo de exibição de filmes, seguidos de debates com os curadores e convidados
  3. Curso de difusão “Paisagem e poder”, ministrado pelos curadores.

Quem são os curadores

Magaly Pulhez é professora adjunta da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Arquiteta e urbanista formada pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, mestre e doutora em Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo pela Universidade de São Paulo (USP), é pesquisadora associada do Centro de Estudos da Metrópole (CEM/CEPID/FAPESP), onde concluiu pós-doutorado com trabalho sobre instituições e burocracias estatais que operam a política habitacional em São Paulo, com financiamento da FAPESP. É líder do grupo de pesquisa Transborda – Estudos da Urbanização Crítica (CNPq/Unifesp), além de ter organizado a edição e publicação de revistas científicas e livros.

Paula Dedecca é professora de História da Arquitetura na Associação Escola da Cidade (AEC-SP). Arquiteta e urbanista pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, concluiu mestrado e doutorado pela mesma instituição. É autora de artigos e capítulos de livros que discutem o campo profissional e a crítica da arquitetura e do urbanismo no Brasil a partir de suas instituições e de suas interlocuções com o Estado e a sociedade civil nos anos de 1950 aos anos de 1970. 

Victor Próspero é arquiteto e urbanista pela FAU-USP, doutorando na área de História e Teoria da Arquitetura pela mesma instituição e desenvolve pesquisa com foco nas relações entre o campo profissional da arquitetura e o regime militar. Foi pesquisador visitante na Universidade de Harvard, coorganizou livros e a série de livretos sobre coleções de arquitetura da Seção de Materiais Iconográficos da Biblioteca da FAU-USP. Também ministrou curso de difusão sobre a ditadura no Centro MariAntonia, e atualmente é vice-presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil – Departamento São Paulo, onde tem trabalhado na organização de eventos, exposições e ações de salvaguarda de seu acervo histórico e artístico. Integra ainda os coletivos Quilombo Saracura-vai vai e Salve Saracura, que representa no projeto internacional “Designing with the planet: connecting riparian zones of struggle, São Paulo, Jakarta, and Berlin”, abordando o cruzamento entre patrimônio histórico, questões ambientais e sociais.

João Fiammenghi é arquiteto e urbanista pela FAU-USP. Atualmente desenvolve doutorado na área de concentração em História e Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo da FAU-USP com o apoio da FAPESP.

José Lira é professor titular da FAU-USP e diretor do Centro MariAntonia da USP. Foi professor visitante da Universidade de Princeton (2022/2023). Formado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e em Filosofia pela USP, é doutor pela FAU-USP e livre-docente pela mesma instituição. Realizou pesquisas de pós-doutorado na Graduate School of Architecture, Planning and Preservation em Columbia University (EUA) e, em 2015, na École Nationale Supérieure d’Architecture de Paris-Malaquais (França). Dirigiu, entre 2010 e 2014, o Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo (CPC-USP), atuando em distintos projetos e programas de Cultura e Extensão Universitárias, nas áreas de cultura, patrimônio cultural, memória, acervos e museus universitários. Foi pesquisador bolsista em Produtividade de Pesquisa do CNPq entre 1999 e 2014. Suas pesquisas se concentram nas áreas de história, historiografia e crítica de arquitetura e urbanismo, com ênfase nas relações entre discurso disciplinar e prática profissional, condições da produção especializada e campo cultural e do pensamento social no Brasil; arquitetura, gênero e sexualidade. É consultor ad-hoc do CNPq e da e FAPESP, editor da Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, da Anpur, editou a Revista CPC e integra o conselho editorial das revistas Risco (IAU-USP) e Redobra (UFBA). É autor e organizador de livros. 

Serviço

Exposição Paisagem e Poder: construções do Brasil em tempos de ditadura

 
Abertura 19 de março – a partir das 19 horas 

Onde |  Centro MariAntonia – Edifício Joaquim Nabuco

Rua Maria Antônia, 258 – Vila Buarque – São Paulo, SP (próximo às estações Higienópolis e Santa Cecília do metrô)

Quando | De 19 de março a 30 de junho de 2024

Visitação | terça a domingo, e feriados, das 10 às 18 horas 

Quanto | Grátis

Informações | (11) 3123-5202